Na atualidade estudos realizados e pesquisas produzidas discutem o ensino da geografia, qual o seu papel no ensino e sua contribuição para a análise da sociedade atual e a formação de conhecimento. Assim Straforini (2004) se faz algumas perguntas.Para que ensinar geografia?Porque aprender geografia? Ele deixa bem claro que o “ensino da geografia é trazer à tona as condições necessárias para a evidenciação das contradições da sociedade através do espaço”. E cabe ao ensino da geografia contribuir para a formação de conhecimento.
O aluno, sujeito do processo ,em atividade diante do meio externo o qual deve ser “inserido” no processo como objetivo de conhecimento ,ou seja, o aluno deve ter com seu meio (que são os conteúdos escolares ) uma relação ativa ,como espécie de desafio que o leve ao desejo de conhecê-lo.(CAVALCANTI, 2012, p. 42)
E nesse processo que se faz de forma consciente e intencionalmente dirigida por outro agente bastante importante que é o professor que se apresenta e propõe os seus conteúdos com seus devidos problemas e dilemas. “Quando um professor traz um tema para o contexto do aluno ,fazendo-o sentir-se no espaço e no tempo que analisa ,promove significações que permite uma construção mais solida do conhecimento”. (ANTUNES, 2001, p.33)
Para ocorrer o processo de aprendizagem significativa, o professor deve desenvolver algumas competências e destacamos as principais que segundo o autor é :
O professor deve organizar e dirigir situações de aprendizagem, o bom professor não é apenas o que transmite conteúdo, mas um verdadeiro especialista em aprendizagem, que conhece os meios, para propiciá-la, adaptando-os à sua disciplina, [...]. (ANTUNES, 2001, p.42)
Antunes (2001) relata a importância dos estudos de David Ausubel1 sobre a mente apresentando os conceitos de forma mecânica ou significativa. Então o que é aprendizagem significativa e em que se distingue da forma mecânica? Segundo o autor:
A aprendizagem significativa é o processo pela qual uma nova informação se relaciona de maneira não arbitrária e substantiva (não literal) à estrutura cognitiva do aprendiz. Quando não aprendemos de maneira significativa resta-nos a alternativa a aprendizagem mecânica ou automática, quando as novas informações são adquiridas sem interação com conceitos relevantes existentes na estrutura cognitiva. Sabemos que a aprendizagem mecânica não conduz a construção de conhecimento. (ANTUNES, 2001, p.30)
Assim Ausubel traz o conceito de aprendizagem significativa, como sendo um processo pelo qual uma nova informação se relaciona com um aspecto relevante da estrutura de conhecimento do individuo. A aprendizagem mecânica, segundo Ausubel, como sendo a aprendizagem de novas informações com pouca ou nenhuma interação com conceitos relevantes existentes na estrutura cognitiva. Nesse caso, a nova informação é armazenada de maneira arbitrária. Não há interação entre a nova informação e aquela já armazenada. O conhecimento assim adquirido fica arbitrariamente distribuído na estrutura cognitiva sem relacionar-se a conceitos subsunçores específicos. A partir das colocações acima fica evidente a diferenciação entre um ensino inovador sócioconstrutivista, de outro totalmente tradicional e contrário, tido e visto como sendo retrogrado e superficial sem práticas inovadoras que despertem no aluno, um novo sentido em aprender, sem achar o conteúdo simplório e desnecessário, para a contribuição em sua formação pessoal.
Ainda sobre uma visão tradicional e “inovadora”,Paulo Freire traz a sua visão sobre a temática que fica bastante evidente quando traz uma proposta dialógica que define de “educação libertadora”na qual ninguém educa ninguém, existe um relacionamento interpessoal saudável entre aluno e professor, o que facilita a aprendizagem, essa é uma educação problematizadora, pois rompe com a verticalidade da educação bancária ou tradicional, ao mesmo tempo em que busca promover a liberdade do aluno oprimido, oferecendo as condições para que o educador seja também educando, e o educando seja professor. Essas duas visões separam o ensino conhecido como “tradicional” do “inovador” (FREIRE, 1970).
Pertencentes à visão inovadora, novos métodos de ensino são desenvolvidos, tendo o aluno como agente ativo no seu próprio processo de aprendizagem. A partir dessa visão passou-se a enfatizar a relevância de cada conteúdo para o educando, conforme os seus conhecimentos prévios, que servirão de ancoradouro para a aquisição de novos conhecimentos (AUSUBEL, et al., 1980).
O professor como facilitador de aprendizagem e mediador dos eventuais conflitos, precisará estabelecer, também, uma relação interpessoal com seus alunos, esses por sua vez, poderão expor suas idéias sem medo de repressão, pois os professores estarão mais dispostos a ouvir, especialmente os sentimentos dos estudantes, o que diminui as dificuldades interpessoais, e a atmosfera, assim formada, propiciará a espontaneidade, pensamento criativo e trabalho auto dirigido, de maneira que os alunos então descubram sua própria responsabilidade individual por sua aprendizagem (MILHOLLAN e FORISHA, 1978).
A mediação em sala de aula tem por objetivo, nada mais que ser uma forma prática e eficaz de um meio de transição, do mediador nesse caso o professor com o mediado o aluno. O mediador está preocupado qual metodologia a adotar, a didática correta. E para esclarecer melhor o significado de mediação, Vygotsky (apud OLIVEIRA, 2002) esclarece: “mediação em termos genéricos é o processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação; a relação deixa, então, de ser direta e passa a ser mediada por esse elemento” (OLIVEIRA, 2002, p. 26).
Fica nítido como é fundamental e importante à função do educador, no processo de aprendizagem, pois, ensinar sem saber mediar os conteúdos, as práticas, as vivencias dos estudantes nada mais é, que um ato comum de lidar com algo sem esperar nada em troca como se fosse uma troca de receitas prontas onde, o que importa é que essa fórmula foi passada e não levando em consideração se o outro de fato aprendeu, ou não, por que no final isso é o que menos importa.
Vygotsky afirma que educar é nutrir possibilidades relacionais. Nessa perspectiva, ensinar e aprender traduzem-se num encontro que revela e que compromete. “Se, do ponto de vista científico, negamos que o professor tenha a capacidade mística de ‘modelar a alma alheia’, é precisamente porque reconhecemos que sua importância é incomensurável mente maior” (VYGOTSKY, 2003, p.76). Já no pensamento de Paulo Freire, a relação sujeito-sujeito e sujeito-mundo são indissociáveis. Como ele afirma (2002, p. 68), "Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, midiatizados pelo mundo".
Ainda sobre mediação qualitativa, Paulo Freire (1985) destaca o diálogo como a forma mais segura para a educação e a libertação de todos os homens e todas as mulheres, opressores e oprimidos. A forma imperativa de transmissão do conhecimento, característica do modelo tradicional, só faz, segundo ele, reforçar a dominação cultural e política, impedindo a conscientização dos homens e das mulheres.
Paulo Freire (2002) critica a educação bancária, onde o professor e a professora depositam os conhecimentos nos alunos e nas alunas narrando-os e conduzindo-os à memorização mecânica dos conteúdos narrados. Em suas palavras,
Na visão “bancária” da educação, o “saber” é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber. Doação que se funda numa das manifestações instrumentais da ideologia da opressão – a absolutização da ignorância, que constitui o que chamamos de alienação da ignorância, segundo a qual esta se encontra sempre no outro. O educador, que aliena a ignorância, se mantém em posições fixas, invariáveis. Será sempre o que sabe, enquanto os educandos serão sempre os que não sabem. A rigidez destas posições nega a educação e o conhecimento como processos de busca. (FREIRE ,2002,p. 58)
Contra esse tipo de mediação professor detentor do conhecimento, e aluno sujeito passivo e receptor, que Freire traz em sua teoria dos oprimidos, essa nova forma de se desenvolver, a prática de ensino aprendizado, com isso, para Paulo Freire (2002, p. 70), “a educação como prática da liberdade, ao contrário daquela que é prática da dominação, implica a negação do homem abstrato, isolado, solto, desligado do mundo, assim como também a negação do mundo como uma realidade ausente dos homens”.
De acordo com Gadotti,(2002), cabe à escola na concepção freireana:
Amar o conhecimento como espaço de realização humana, de alegria e de contentamento cultural; cabe-lhe selecionar e rever criticamente a informação; formular hipóteses, ser criativa e inventiva (inovar): ser provocadora de mensagens e não pura receptora; produzir, construir e reconstruir conhecimento elaborado. E mais: numa perspectiva emancipadora da educação, a escola tem que fazer tudo isso em favor dos excluídos. Não discriminar o pobre. Ela não pode distribuir poder, mas pode construir e reconstruir conhecimentos, saber, que é poder. A tecnologia contribui pouco para a emancipação dos excluídos se não for associada ao exercício da cidadania. (GADOTTI,2002 p.70)
O papel do professor, a mediação pedagógica, no “novo” processo de aprendizagem,e suas múltiplas interações (aluno -professor –aluno). Como se manifesta essa mediação pedagógica?
Embora, vez por outra ainda desempenhe o papel de especialista que possui conhecimento e/ou experiências a comunicar, no mais das vezes desempenhará o papel de orientador das atividades dos alunos, de consultas, de facilitador da aprendizagem de alguém que pode colaborar para dinamizar a aprendizagem do aluno, desempenhará o papel de quem trabalha em equipe, junto com o aluno, buscando os mesmos objetivos. (MASETTO, 1998, p.142)
Nesse processo o professor desempenha um novo papel que segundo pesquisadores e autores eles não estavam acostumados, pois sentiam-se seguros com o papel tradicional de comunicar ou transmitir algo que conheciam bem.
Sair dessa posição, entrar em dialogo direto com os alunos, correr o risco de ouvir uma pergunta para a qual no momento talvez não tenhamos respostas, e propor aos alunos que pesquisemos juntos para buscarmos a resposta tudo isso gera grande desconforto e insegurança, confiar no aluno; acreditar que ele é capaz de assumir a responsabilidade pelo processo de aprendizagem junto conosco; assumir que o aluno, apesar da idade, é capaz de retribuir atitudes adultas de respeito dialogo, de responsabilidade [...] (MASETTO, 1998, p.142)
Então paramos pra refletir sobre esse novo papel do professor e do aluno. Quais são suas responsabilidades? Cabe ao professor selecionar o que é importante ensinar como selecionar, no contexto de sala de aula, tendo clareza quem são seus alunos e porque precisam aprender, para decidir o que ensinar e qual a melhor estratégia de ensino.
O trabalho escolar só pode ser pensado, a partir do /para o grupo envolvido. [...] Cabe os educadores a tarefa de comandar a mudança da escola. Somos os principais agentes na produção de um saber escolar voltados para os interesses e perspectivas dos nossos contextos específicos [...]. (SILVA, 2004, p.43).
O professor nesse processo de aprendizagem tem que propiciar os principais elementos teóricos e os meios cognitivos e operativos de desenvolver consciência da espacialidade das coisas, mostrar o estudante como ele está inserido e como faz parte do espaço geográfico. E para se desenvolver esse pensamento espacial é necessário, obviamente, (re)construir a noção de espacialidade. Para Milton Santos (1996 p.51) parte da compreensão de espaço como um “conjunto indissociável, solidário e também contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não considerados isoladamente, mas como o quadro único no qual a história se dá”. Então cabe ao professor a responsabilidade de propiciar ao aluno diversas possibilidades interpretativas do espaço geográfico, para que o educando possa interagir criticamente e buscar ao máximo desenvolver as relações espaciais topológicas etc. ou seja, utilizar o espaço vivido, percebido e concebido do aluno, buscando também uma (re) construção de conceitos geográficos na geografia escolar.
1 David Ausubel O pesquisador norte-americano (1918-2008), dizia que, quanto mais sabemos, mais aprendemos. Famoso por ter proposto o conceito de aprendizagem significativa, ele é contundente na abertura do livro Psicologia Educacional: "O fator isolado mais importante que influencia o aprendizado é aquilo que o aprendiz já conhece".
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